Agora, um poquinho de literatura para vocês!
O VÔO DA BORBOLETA
As cinzas ainda espiralavam das chamas que a brisa fraca
soprava do leste. O sol, tão impiedoso quanto o ato que destruiu aquele lugar,
baixava no horizonte, como se também estivesse banhado de sangue, igual a terra
sob os pés da garota. A única sobrevivente.
Que poder ela possuía para que tivesse escapado?
Pequenas lágrimas desciam pelo seu rosto sujo de fuligem,
enquanto os olhos observavam o vôo da borboleta. Uma mancha de cores entre as
plantas secas que rodeavam a paisagem local.
Havia três dias que ela nada comia. Bebera água com
dificuldade, em um poço artesanal que fora abandonado tempos atrás. Sua roupa
rasgada e imunda balançava junto com seus cabelos negros. A sua frente à
estrada estava desimpedida e aguardava sua decisão de segui-la. Não havia mais
nada para ela ali. Durante estes três dias, procurou incansavelmente por vida
entre os escombros. Nada.
Desejou profundamente ser uma borboleta e ter asas ao invés
de sentimentos. Assim, poderia fugir para bem longe daquele lugar e das
lembranças que assomavam em sua memória a todo momento.
Eliza, como se chamava a garota, tenta se aproximar da
borboleta, mas esta não estava ali apreciando a seca e a morte, apenas fugia em
busca de campos floridos onde pudesse viver. Com passos lentos e desajeitados,
Eliza segue o vôo da borboleta sem saber por que faz isso. Quando o sol já
estava em seu último ato, ela chega à beira de um abismo. “É fácil, basta imaginar as asas” – sussurra-lhe uma voz que ela
imagina ser da borboleta. Se lançar-se dali, poderia partir para uma outra
vida, ou para a escuridão eterna.
Quem ela poderia vingar? Quem ela poderia culpar pelo
incêndio devastador que queimara tudo e todos que conhecia? Se um dia houvera
um culpado, este estava junto aos outros, morto.
A borboleta parece entender os pensamentos de Eliza e pousa
em seu ombro. Nesta terra, acredita-se que isto signifique sinal de boa sorte.
A garota tenta toca-la. Está tão fraca e ferida que não consegue erguer a mão.
Tinha vertigens e seus joelhos teimavam em curvar-se. Ela que fora bondosa e
valente em toda sua curta vida, podia render-se agora.
Sem qualquer aviso, ou som, a borboleta bateu suas asas e
voou na imensidão escura que se abria a sua frente. Eliza que desejara com toda
sua alma ser uma borboleta flutuava agora para um reino distante, onde não
havia medo, morte ou dor.
Michelli Mortari.
Todos os créditos para a autora.
Tenho a impressão de que foi a menina quem incendiou o lugar. O choque do arrependimento, fez com que Eliza procurasse por algum sobrevivente, mesmo que em vão.
ResponderExcluirLindo conto Mii! Parabéns ^^
Essa é uma das formas de interpretar! E por isso é que contos são extremamente belos...
ResponderExcluiramei amiga, muito cativante, parabéns.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom adorei excelente trabalho.
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