quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A BATALHA DE SENTSAN





           

 A tempestade durava quatro dias. As noites terrivelmente frias não davam descanso ao herói. As fadas e criaturas mágicas o acompanhavam, curando suas feridas, incentivando suas batalhas. Sentsan tornara-se um campo de guerra. As flores não mais desabrochavam, os lagos de águas cristalinas estavam manchados de sangue e o guerreiro Max, tinha ainda a esperança de resgatar sua amada. Havia tempos que o Rei de Sentsan determinara que o vencedor teria a mão de sua filha em casamento. Isso era o costume, como em todos os contos que Max ouvira quando criança, mas agora, a parte encantada não existia. Ele amava verdadeiramente a Cecília, e se perdesse esta batalha, estava convencido de que não suportaria viver vendo-a nos braços de outro homem. Sua luta era contra todos. Seus motivos, nobres. Cecília declarara sua paixão por ele meses antes da batalha começar. Max não suportava ver sua expressão triste, desolada, apoiada ao mural de seus aposentos reais. Partia o coração do rapaz.
            O quinto dia chegou como um furação destruidor. Max lutava contra dragões, bestas e feras, incansavelmente, porém, contra homens, ele sofria ao desembainhar sua espada ou recitar suas magias. Max não gostava de matar. Sua natureza compassiva, seu coração gentil, o impediam de ser alguém impiedoso. Mas era por Cecília que ele lutava agora e precisava vencer. No campo externo do pátio inferior da ala leste, ele destruiu todos os obstáculos e tendo como o último, seu melhor amigo.
            Max ficou terrivelmente abalado diante do jovem que se apresentava a ele. Quando foi que Alvin se juntara a esta guerra? Dividido entre emoções distintas, perdeu o foco e não pode se esquivar com rapidez suficiente do golpe que Alvin desferira contra ele. Sua espada não alcançou o alvo, porque ele ainda não havia decidido ferir. Gotas de chuva turvaram suas vistas. Ou seriam as lágrimas? A dor da traição o afetava mais que a ferida aberta em seu peito jorrando sangue e manchando as poças ao seu redor.
            Cecília assistia a última luta, com as mãozinhas delicadas junto ao seio. Ao ver seu amado ferido quis lançar-se, mas foi impedida por cinco pequenas fadas coloridas, que juraram salvar o seu amor. No entanto, as fadas precisavam de ajuda em seu reino mágico, e como pagamento, Cecília e Max deveriam viver por dez anos no mundo encantado. A princesa não hesitou. Cortando o dedo com uma adaga especial, deixou que a gota de sangue flutuasse até o pergaminho da fada. O pacto estava feito. As fadas voaram apressadas até Max que caído, ferido na alma e no corpo, não podia defender-se do golpe que Alvin estava para desferir contra ele. Seria fatal.
            Usando de um encantamento poderoso, as fadas fecharam a ferida de Max, no entanto, sua força vital havia se perdido em grande quantidade. A espada de Alvin atingiu o escudo de Max, antes que ele pudesse se levantar. Alguém da plateia atirou uma pedra e Alvin se esquivou no último segundo. O mundo conspira a favor dos que amam de todo o seu coração. Max levantou-se, cambaleou e tossiu um pouco de sangue. Olhou nos olhos de seu amigo com uma muda interrogação. A resposta que recebeu foi suficiente para tomar uma corajosa decisão. Avançou para o alvo com suas últimas forças. Já não poderia usar de magia, pois precisaria estar mais forte. Dependia apenas de seu braço fe sua espada fiel. Uma luta mortal se travou. Max ainda sentia repugnância em matar, mas Alvin gritou dizendo que seria o próximo rei. Que ninguém tomaria o ouro que esperava por ele e que deixaria Max ser o seu cão se desistisse de lutar. A fúria que o assomou foi indescritível. Se o objetivo de Alvin não era a mão de Cecília, e sim, apenas a riqueza, o amigo não merecia vencer. Suas dúvidas desapareceram e com um floreio habilidoso acertou o amigo por baixo do braço, exatamente onde a armadura oferecia uma brecha, deixando-o desprotegido. Alvin caiu sobre os joelhos antes de bater de rosto na lama. As pessoas aclamavam o herói da batalha de Sentsan. Max não se importava com isso, seu prêmio, sua grande recompensa lhe acenava do alto de uma janela na torre do castelo.
            Max foi capaz de vencer todos os obstáculos a ele impostos. Não sucumbiu diante de nada, pois dentro dele havia uma poderosa magia, algo que o tornara invencível, tão antiga quanto o mundo. Uma magia chamada de amor. Mesmo com a promessa de Cecília de viverem ambos no mundo encantado das fadas, ele não duvidou. Viveria em qualquer lugar, lutaria contra qualquer tipo de monstro, humano ou não. Com sua amada, arriscaria a vida com um sorriso nos lábios e morreria honrado por defendê-la. Sua alma nobre vivia em corpo forte com um coração valente. A benção da natureza caiu sobre eles, que juntos, desapareceram num passe de mágica. 

 (Mais um conto para vocês passarem o tempo)

Autora: Michelli Mortari.

Um comentário:

  1. Nossa, viajei na maionese agora!
    Foi como se estivesse vendo um filme.
    Muito bom o conto, parabéns! xD

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